5 dicas para garantir o bem-estar dos pets durante a mudança de casa

Sabina Scardua explica como, aos poucos, adaptar o pet à mudança de casa, para evitar estresse e ansiedade nos bichos

Musgo e Smel, dois cães que viveram comigo por mais de 15 anos, mudaram de casa nove vezes. Em todas, o Musgo fazia xixi pela casa toda, assim que começava arrumar as coisas na velha e chegava na nova. Por que isso? Estresse.

Ele ficava tenso e apreensivo, mas não chegava a se desequilibrar. Era um cão de rua, havia sido abandonado antes de vir para mim, depois ficou dois meses em um hotel, o que reacendeu o trauma. Ele tinha medo. Nas últimas três casas, já era muito idoso, mas eu já tinha sacado, ele precisava ficar ali participando, sentindo meu cheiro, ouvindo minha voz e então não tinha mais tanto medo.

Tem animais que latem demais neste período, vomitam, rasgam caixas e estragam coisas. Não, eles não estão implicando com você, revoltados, fazendo pirraça ou nada do gênero. É estresse e medo. É preciso compreensão e cuidado, e não bronca. Ao contrário do que muitos pensam, os cães e os gatos odeiam mudar de casa, mas alguns detalhes precisam ser observados para que esta experiência seja tranquila para eles.

Quando o assunto é bem-estar animal, os detalhes fazem diferença na confiança, segurança e equilíbrio mental e emocional dos bichos na hora da mudança. Cada animal é de um jeito e cada situação tem suas peculiaridades, mas, em geral, vejo estes cinco detalhes fazerem sucesso nas mudanças:

1. Não lave nada antes de levar para a casa nova

Já sabemos que o olfato dos bichos é incrivelmente mais poderoso que o nosso. Os bichos interagem com o mundo através do olfato, portanto o mais importante não é eles verem os móveis e objetos familiares, mas reconhecerem os cheiros familiares.

Muitas vezes, quando vamos para uma casa nova, queremos levar tudo limpinho, tapetes, cortinas, colchas… Não faça isso! Leve tudo sujo, de preferência, até um grande cesto de roupas sujas. Esses peças vão ajudar tremendamente o pet em sua adaptação, dando um conforto e sensação de segurança. Aqueles dispositivos de feromônios que ligam na tomada também podem ser usados, mas a roupa suja ganha de mil a zero no quesito segurança emocional.

2. Leve todos os móveis e objetos, e, na casa nova, descarte os que não quer mais

Os animais podem criar vínculos afetivos com alguns móveis e objetos. Desfazer das coisas pode chocar ou magoar alguns bichos.

Tudo bem, claro que não vai ficar com aquele sofá velho a vida inteira só porque o gato gosta, mas o momento de mudança de casa não é o melhor momento para se desfazer de móveis e objetos. Eu sei que isso parece não fazer sentido, mas, pelo bem do pet, o ideal seria que o tutor fizesse isso aos poucos, depois que já estiver na casa nova.

3. Leve algo do pet para a casa nova antes de se mudar e, se possível, leve-o para visitar o novo local antes da mudança

Se for um cachorro, o ideal é levar o pet para dar uma voltinha na nova casa, antes de mudar, caso seja possível, claro. Mas, no dia que o animal chegar no novo lar, ele deve encontrar as coisas dele lá. Caixa de areia, tapete higiênico – de preferência com o xixi dele -, pote de comida, água, caminha, paninho, brinquedos, tudo sem lavar, claro.

É importante organizar um cantinho da casa nova com as coisas do pet. Neste primeiro momento, não é pra colocá-las no lugar certo, como pote de comida na cozinha, caixa de areia na área de serviço. Por que? Isso obriga o bicho a explorar e dominar todo o local rapidamente.

Deixe ele ir explorando, conforme vai ganhando confiança. Isso ocorre, principalmente, com os gatos. Então, assim que chegar, deixe-o em um quarto separado. Depois, abra a porta do cômodo e deixe-o explorar com calma. Nada de chamar ou tirar da caixa na marra. Alguns animais precisam dominar a situação por partes. Se ele estiver muito assustado, pode ser preciso ficar no quarto mais tempo.

No caso do gato, coloque outra caixa de areia no local definitivo, na área de serviço, por exemplo, mas só tire a caixa do cômodo que ele ficou quando chegou, depois que ele usar, mais de uma vez, a do local certo. Isso dá segurança. Ele precisa ter tempo para dominar o espaço. Ficar andando pela casa toda à noite não quer dizer que ele já o dominou. Tem muita coisa em jogo, como processar os cheiros e as energias do local.

Uma vez, uma cliente mudou para um apartamento novo e ficou empolgada com a possibilidade de usar a garagem. Assim, ela levou o gato para conhecer o espaço enorme e novo que ele teria para passear, mas o bichano ficou aterrorizado e estressado. O mesmo acontece em casa com o quintal, nós ficamos empolgados e queremos que o animal saia desbravando o quintal todo saltitante como um carneirinho feliz.

É importante dar tempo ao tempo e acompanhá-lo neste novo ambiente nos primeiros momentos. Não o leve, vá com ele explorar, sem pressão. Este cuidado é muito importante para gatos mais tímidos e cautelosos e com cães muito jovens ou idosos.

4. Nem sempre deixá-los em outro local e levá-los apenas quando a casa estiver arrumada é o melhor a se fazer

Muitas pessoas deixam os animais em um hotel ou casa de amigo durante o momento da mudança. Do ponto de vista da segurança do animal fugir ou se machucar, ok. Já do bem-estar emocional dos animais, nem tanto.

A maioria quer participar, estar próximo do tutor. Se o animal está acostumado com o hotel ou a casa do amigo, tudo bem, mas, se não, a melhor opção é pedir ajuda a um amigo ou profissional previamente apresentado ao animal, que venha ficar de “babá” dos animais durante a mudança. Se você tivesse um filhinho de 2 anos, alguém teria que te ajudar, certo? É a mesma coisa com os animais.

Esse cuidado é muito importante para os pets que já foram abandonados. E vi muitos entrarem em pânico por acharem que estavam sendo abandonados de novo. “Ah, mas é só um dia, depois ele vai entender…” Só que depois já rolou o cortisol, o hormônio do estresse, lembra? Ele reativa todas as vias neurais de medo e ansiedade, o que prejudicará a adaptação na nova casa.

5. Prepare o animal para a mudança com aumento de agrados

Faltando 15 dias para a mudança, vá aumentando gradativamente as guloseimas, petiscossachês, brincadeiras e passeios – se o animal não tiver nenhuma restrição médica, claro. Mantenha por mais 15 dias na casa nova e vá reduzindo para a normalidade gradativamente.

Isso ajudará o animal a fazer uma associação positiva com a mudança e manter-se mais relaxado. Este compromisso garante que ele não terá menos atenção nos momentos da mudança, que é o que geralmente acontece, prejudicando a adaptação. Sem atenção suficiente, o pet fica mais inseguro, registrando, de forma automática, a mudança como algo negativo. Este cuidado é importante, principalmente, para bichos jovens.

Não esqueça da limpeza energética da casa nova antes de se mudar. Existem inúmeras técnicas simples na internet e também profissionais gabaritados para este fim que podem realizar a limpeza tanto maneira presencial, como à distância. Você está lidando com a visão, principalmente. Os animais estão lidando, predominantemente, com o que você não está vendo ou sentindo: os milhares de cheiros imperceptíveis para nós e as energias.

Espero que todas as mudanças de residência na sua vida sejam sempre para melhor, mas os animais não reparam se a casa é maior, melhor, mais bem localizada. O evento será seguro e alegre ou difícil, estressante e assustador, de acordo com a forma que você conduzir. Eles estão ali dando o seu melhor para interagirem com o mundo e com você de forma alegre e amorosa. Todo cuidado é pouco com esses seres incríveis.

Por Sabina Scardua é médica-veterinária com doutorado em comportamento animal. Atua com Reiki em animais desde 2016 e está à frente do Reiki Pet Rio