Os desafios do mercado agrícola para 2023

A saga do produtor rural não acaba com a colheita, a rentabilidade da safra depende de fatores alheios à produção.

“Sou um sonhador permanente”. Essa auto definição é do ex-ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli, que sonhou com a ocupação dos cerrados como mecanismo para desenvolver o Centro Oeste e conseguiu transformar o sonho em realidade. Ele analisa o atual cenário político e econômico com muita preocupação, “mesmo sonhando”, não apenas para o setor produtivo, mas para a indústria, comércio, serviços, transportes, armazéns, porque não tem como dissociar o rural do urbano, é uma cadeia que depende de políticas públicas eficazes”

Com sua experiência, Paulinelli está temeroso com os rumos da economia, a “situação econômica não vai bem e, por mais que o agro seja uma atividade forte, ela depende de ações ditadas pelo Governo, embora o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, conheça as dificuldades do setor, é do ramo e, certamente está atento aos desafios e na busca de solução”.

Mesmo prevendo algumas adversidades para o agro, Paulinelli está confiante de que a exportação dos produtos brasileiros em 2023, vai ser maior que a anterior que ficou na ordem de 160 bilhões de dólares. E essa safra de soja e milho sinaliza uma produtividade muito boa, “o algodão ainda não é possível avaliar”.

A pecuária brasileira completa o ciclo de sucesso da exportação brasileira. Segundo Paulinelli, a carne brasileira já chegou ao mercado externo competindo com outros países – China, Indonésia, Índia, Egito e, caminha para ser a melhor, à medida que as pessoas identificam o sabor de carne, o consumo aumenta, é “a carne verde”.

Outro fator – o social – influenciará decisivamente o consumo da carne, “assim que aumentar o poder aquisitivo das pessoas elas vão migrando do carboidrato para a proteína e, sem dúvida, aumentam os consumidores”.

Otimista, Paulinelli vê o Brasil como a grande solução da fome no mundo e, “Mato Grosso surpreende, a região de Primavera vai chegar logo na 3ª safra do milho, porque comprovadamente é um das melhores regiões para a segunda safra, é o berço do milho, que mesmo sem irrigação, é o melhor do mundo”. O etanol do milho é mais limpo e, se produzido na região, ficará independente de São Paulo.

Paulinelli cita o exemplo de Paracatu, Minas Grais, onde é produzido cerca de 70% do milho do país, há mais de 30 anos e, “Mato Grosso pode ultrapassar essa marca”. Entusiasmado ele cita o agro como o grande do diamante do país – é uma pedra preciosa, de valor inestimável e cobiçada pelos exportadores.

Tão otimista quanto Paulinelli é outro ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que vê o Brasil como um campo de futebol onde será disputada a “Copa do Mundo dos Alimentos”.

Comercialização

A saga do produtor rural não acaba com a colheita. A comercialização do produto e o lucro esperado depende de fatores, muitas vezes alheios a produção, embora cerca de 90% da safra seja negociado com antecedência. O proprietário da empresa Capital Agro Corretora Wanderson Xavier da Silva, 37 anos, vê com cautela os desdobramentos da política econômica do atual Governo e os reflexos em setores decisivos como o agro, “foram destinados 1,5 bilhão para Agricultura e 15 bi para a Cultura, portanto as prioridades é que causam preocupação”.

Wanderson cita dois fatores importantes para determinar o preço da soja no mercado externo, o dólar que tem como base a bolsa de Chicago e, a China que compra 80% da produção brasileira, portanto “se a China por alguma razão, como o efeito da pandemia na economia do país, reduzir as importações, o reflexo para a exportação brasileira  é imediata”.

Para ele, a função de uma corretora de grãos exige muita responsabilidade e competência para intermediar com sucesso um negócio entre dois interessados em um produto comum. Ou seja, “unir o vendedor interessado a vender seu produto, a um comprador interessado e conciliar esses interesses com o mercado”.

A corretora de grãos é a parte responsável por fazer esse intermédio, analisando e ponderando os dois interesses – o que o produtor quer vender e o que o comprador quer; trabalhamos, como uma espécie de mediador da agroindústria, transformando interesses diferentes em um único objetivo: lucratividade para ambos”.

Nesse contexto, o foco, segundo Wanderson, é oferecer as oportunidades mais rentáveis aos nossos parceiros de negócios e fazer o acompanhamento mais detalhado em todo o processo de negociação, desde o fechamento, até a liquidação final ao produtor”.

 O experiente corretor de cereais, proprietário da ASP, Ademir José – entende que “a alta dos fertilizantes, reflexo da guerra da Ucrânia, influenciou o preço da produção, o produtor plantou com valor elevado, portanto menos lucro e, consequentemente o produto industrializado, remédios, roupas, máquinas, ficam mais caros e o consumidor paga a conta porque todos os setores da economia dependem da agricultura”.

Na opinião de Ademir, o produtor enfrenta situações climáticas adversas, oscilação do dólar, insegurança jurídica, política e quando chega na ponta, no momento de vender são muitos os desafios, enfim “o agro precisa ser visto com bons olhos pelo Governo, mas há um trabalho da mídia em sentido contrário e, o produtor fica refém de um conjunto de dificuldades, embora o setor seja importante para a economia do país, para nossa balança comercial”.

Segundo Ademir, a produção ficou entre 15 a 20% mais cara e o preço da soja variando pra baixo entre US 28,5 e 29 dólares quando já atingiu de 37 a 38 dólares, entretanto, “em todo comércio a oferta e a procura determina os preços, mas alguns fatores são decisivos”.

Por: Especial Revista Em Pauta MT