24 mil pessoas aguardam por transplante de córnea no Brasil; fila duplicou em 4 anos

Dados são referentes aos atendimentos feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) e nas redes privada e suplementar. Segundo o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), o tempo de espera por um transplante de córnea é de 13,2 meses, em média.

24.319 pacientes estão na fila de espera por um transplante de córnea no Brasil – o número dobrou entre 2019 e 2022. É o que aponta um levantamento feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), com informações do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Apesar do aumento na lista, o volume de transplantes cresceu entre 2020 (pico da pandemia de Covid-19) e 2022: de 4.374 para 7.826 cirurgias, mas o número está abaixo do patamar pré-pandemia.

  • Entre 2012 e 2022 foram realizados 86 mil transplantes de córnea no Brasil.
  • A fila de espera da cirurgia duplicou entre 2019 e 2022. Foi de 12.212 para 23.319. Em 2020, 16.337 aguardavam pelo transplante. Em 2021, esse número era de 20.134.
  • Em 2020 (o pico da pandemia), o número de transplantes atingiu o menor número da série histórica. Foram 4.374. Em 2022, o Brasil voltou a realizar mais de sete mil transplantes ao ano, mas o número ainda está abaixo dos anos pré-pandemia.
  • São Paulo é o estado com mais centros de referência para esse tipo de procedimento. No país, apenas Acre, Amapá e Roraima não possuem nenhum centro.
  • As mulheres são maioria quando o assunto é transplante de córnea só no Sudeste. Nas outras regiões, os homens prevalecem.

A córnea é um tecido transparente que fica na parte da frente do olho (para exemplificar, podemos compará-la ao vidro de um relógio ou a uma lente de contato). Se a córnea se opacifica (embaça) a pessoa pode ter a visão bastante reduzida ou, às vezes, até perder a visão.

De acordo com o Ministério da Saúde, o transplante permite que pessoas com alguma deficiência visual por problemas de córnea recuperem a visão.

Durante um transplante de córnea, o botão (ou disco) central da córnea opacificada (embaçada) é trocado por um botão central de uma córnea saudável. Esta cirurgia pode recuperar a visão em mais de 90% dos casos de pessoas que têm alguma deficiência visual por problemas de córnea.

Tempo de espera

Segundo o Sistema Nacional de Transplantes, o tempo de espera por um transplante de córnea é de 13,2 meses, em média. A lista é a mesma, não importando se o atendimento é realizado na rede pública ou privada.

No entanto, esse índice varia, de acordo com o estado. No Pará, é de 26,2 meses, no Maranhão, 22,6; no Rio de Janeiro, 21,4; Rio Grande do Norte, 18,4; e Alagoas, 17,7. Por outro lado, a demora registrada é menor no Ceará (1,2), Amazonas (2,2), Santa Catarina (4,9), Mato Grosso (6,1) e Paraná (6,5).

Para Frederico Pena, diretor-Tesoureiro do CBO, o volume de transplantes e a celeridade no atendimento das demandas está diretamente vinculada à existência de uma rede ativa de capitação de córneas em cada localidade. Segundo ele, “esse trabalho é fundamental para que o Brasil aumente a produção desse tipo de procedimentos”.

O perfil dos pacientes e as diferenças por regiões

No Brasil, 24 estados possuem pelo menos um Banco de Tecidos Oculares na rede pública. Acre, Amapá e Roraima são os três locais sem um centro.

São Paulo é o local com mais centros para esse tipo de procedimento. Por isso, respondeu por um terço das cirurgias nos 10 anos analisados. Foram 29,9 mil intervenções. Na outra ponta está o Tocantins, com 145 cirurgias entre 2012 e 2022.

O Sudeste ocupa a primeira posição entre as regiões com mais transplantes – 46%. O Nordeste vem em seguida, depois o Sul, Centro-Oeste e Norte, com apenas 5%.

No geral, o perfil do transplantado é equilibrado – 50,7% são homens e 49,3%, mulheres. A ordem só inverte na região Sudeste, onde as mulheres são maioria.

As pessoas entre 40 e 69 são as que mais procuraram o procedimento. Elas correspondem a 39,2% dos pacientes. Logo após vem a faixa de 20 a 39 anos, com 27%. Outros grupos também são favorecidos, como idosos com mais de 70 anos (25% dos casos) e crianças e adolescentes (8,4%).